“Cidades ativas são cidades mais caminháveis” foi tema de palestra em Porto Alegre

06/10/2017 | por cidadeativa

No dia 22.09, Dia Mundial Sem Carro, Gabriela Callejas apresentou a Cidade Ativa no III Seminário de mobilidade urbana – Porto Alegre para pessoas, em Porto Alegre. Com o tema “Cidades ativas são cidades caminháveis”, Gabriela conceituou a rede de mobilidade a pé, lembrando dos benefícios dessa forma de deslocamento  e trazendo a experiência da Cidade Ativa no tema.

Gabriela Callejas apresentou a Cidade Ativa em Porto Alegre.
Crédito: Luciana Farias Pereira

O QUE SÃO CIDADES ATIVAS

Cidades ativas são aquelas em que a população pode fazer escolhas mais saudáveis e sustentáveis. Para que isso seja possível, essas cidades devem proporcionar acesso a espaços públicos e serviços de qualidade a todas as pessoas, garantindo que possam passear, descansar, brincar e se exercitar em praças, parques e equipamentos.Cidades ativas são também compactas, em que a proximidade entre a moradia e o trabalho, escola, serviços faz com que a rede de transporte público seja mais eficiente e melhor distribuída no território. Assim, a escolha pelo modal a pé ou bicicleta nos deslocamentos diários se torna viável. Por isso, cidades ativas são, necessariamente, mais caminháveis.

CONCEITUANDO MOBILIDADE A PÉ

Para garantir que seja feito o planejamento da rede e dos espaços dedicados a pedestres, é necessário equalizar o entendimento dos atores envolvidos – sejam do setor público ou privado – sobre o que é de fato mobilidade a pé:


Crédito: Cidade Ativa

+ O DESLOCAMENTO A PÉ É UM MODO DE TRANSPORTE

Para que haja o planejamento efetivo da rede e que ela seja incorporado nas ações, programas e políticas públicas é importante reconhecer o deslocamento a pé como um modo de transporte. Hoje no Brasil mais de 30% dos deslocamentos diários da população é feito exclusivamente a pé e deve-se somar a esses todos os deslocamentos feitos por transporte público que começam ou terminam com o caminhar. A Política Nacional de Mobilidade Urbana reconhece os modais ativos (ou não-motorizados) como formas de transporte, e a priorização do pedestre é exigida para os Planos de Mobilidade Urbana.

+ O DESLOCAMENTO A PÉ É O PRINCIPAL INTEGRADOR DE OUTROS MODOS DE TRANSPORTE

Assim, em algum momento do dia, todos somos pedestres, seja no início ou no final da viagem, seja para caminhar até o ponto de ônibus/metrô, para o comércio próximo da moradia ou local de trabalho ou no momento que estaciona a bicicleta. A utilização do modo a pé está presente em qualquer distância ou trajeto que for percorrido pelos pés.

+ A REDE DE MOBILIDADE A PÉ É COMPLEXA

O planejamento da rede de mobilidade a pé é bastante mais complexo do que o da tradicional infraestrutura de transporte público coletivo (ônibus, metrô e outros). Na mobilidade a pé, os trajetos são muito mais flexíveis: os pontos de origem e destino – residência, edifício comercial, parques e praças – são muitos, trazendo a necessidade de se ter uma malha amplamente conectada, garantindo a articulação e continuidade entre todos esses pontos.

+ A MOBILIDADE A PÉ SE MANIFESTA EM DIFERENTES ESCALAS E ATRAVÉS DE DIVERSOS ELEMENTOS

Na escala da cidade, está relacionada à definição de densidade populacional e à distribuição de usos, o que influencia nas distâncias a serem percorridas. Uma cidade mais compacta torna a rede de transporte público coletivo mais eficiente e melhor distribuída no território, garantindo acesso a toda a população. Esses elementos influenciam diretamente na escolha do modal a pé de forma exclusiva ou complementar nos deslocamentos diários.

Na escala do bairro, consegue-se visualizar outros elementos que demandam planejamento: dimensão das quadras, continuidade das calçadas, posicionamento e frequência das travessias, e sua articulação com outros espaços percorríveis a pé, como escadarias, vielas, praças. Nessa escala é possível estabelecer rotas de pedestres, garantir a conexão entre espaços públicos e principais destinos, como serviços e transporte público.

Por fim, deve-se ter em conta o planejamento e projeto dos elementos perceptíveis na escala do pedestre: o dimensionamento de calçadas e outros espaços, os materiais empregados, a presença de árvores, iluminação, mobiliário urbano e a relação dos lotes privados e edificações com o passeio.

+ SUAS QUALIDADES SÃO AVALIADAS CONTINUAMENTE PELOS USUÁRIOS E SÃO DECISIVAS NO MOMENTO DA ESCOLHA PELO DESLOCAMENTO A PÉ

Entre as principais qualidades utilizadas, ainda que intuitivamente, pelos usuários para avaliar a opção pelo deslocamento a pé, destacamos: utilidade (se a rede serve o propósito de promover o caminhar, se os pontos de origem e destino estão a uma distância – e tempo – adequada à necessidade do usuário); acessibilidade (se os espaços podem ser percorridos por pessoas com diferentes habilidades); conforto (se a rede e seus espaços proporcionam espaço suficiente para o fluxo de pessoas, se oferecem conforto ambiental, proteção a intempéries); segurança (em relação aos veículos, ou segurança contra crimes); e atratividade (se os espaços foram planejados e desenhados considerando a escala da pessoa, se são interessantes e oferecem diversidade de usos de permanência para além da passagem).

+ PESSOAS QUE CAMINHAM TÊM DIFERENTES CARACTERÍSTICAS E PODEM UTILIZAR A REDE PARA REALIZAR DIVERSAS ATIVIDADES

O caminhar está em toda parte e é feito por todas as pessoas, independente de suas habilidades (e se precisam, por exemplo, de algum dispositivo para caminhar) ou do propósito do deslocamento. Essa diversidade deve ser considerada no planejamento da rede. Os atributos mencionados anteriormente serão ponderados de maneira diferente de acordo com as necessidades dos usuários. Para muitos a acessibilidade, por exemplo, é um quesito essencial no momento da escolha pelo modal a pé. Por isso, o desenho dos espaços deve priorizar as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Uma rede de mobilidade a pé que responda a essas necessidades específicas será uma rede adequada a todas as pessoas. É importante levar em conta que todos nós, em algum momento de nossas vidas (quando criança, com criança de colo, quando idoso ou após sofrer alguma lesão ou doença) exigirmos que os espaços públicos atendam a nossas necessidades específicas. Por isso:

+ A REDE DEVE SER PLANEJADA CONSIDERANDO TODOS E CADA UM DOS USUÁRIOS, RESPEITANDO SUAS LIMITAÇÕES E PRIORIZANDO SEMPRE OS MAIS VULNERÁVEIS