Mesa redonda: O processo colaborativo como caminho para desenhar projetos

01/10/2019 | por cidadeativa

Durante a elaboração de projetos, arquitetos e urbanistas procuram se aproximar de espaços e pessoas para entender quais questões estão postas – e como um novo desenho pode ajudar a solucioná-las. Essa investigação pode se dar de muitas maneiras, com coleta de dados técnicos ou com engajamento de usuários para levantar questões mais sensíveis. Nesse contexto, os processos colaborativos tem ganhado cada vez mais espaço. A aproximação com comunidades dá visibilidade às necessidades e anseios da vida cotidiana e trazem outras perspectivas sobre a relação desses usuários com os lugares que ocupam. Esses processos, em que o pesquisar e o transformar se fundem, são marcados por ações não só desenvolvidas para comunidades, mas também por elas.

Para discutir essa forma de atuação, fomos convidados para participar no dia 30 de setembro de uma mesa redonda na Semana Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Belas Artes, em São Paulo, junto com a arquiteta recém formada Mariana Montag. Mariana compartilhou o histórico e ferramentas de pesquisa que utilizou em seu  Trabalho Final de Graduação, que nasceu da sua relação afetiva com o território e mulheres do vilarejo de Kikajjo, em Uganda, leste Africano. Para desenvolver o projeto e estudo de autoconstrução para a casa de uma das moradoras locais, ela desenhou um processo colaborativo com a própria usuária, desde a concepção do desenho. Com enfoque na perspectiva de gênero, a Casa de Jajja será construída também como um protótipo que tem por intenção fortalecer a comunidade local, através de oficinas de capacitação de autoconstrução para mulheres. O processo também foi desenhado para aproximar do planejamento as figuras que mais utilizam esses espaços e pouco decidem sobre eles.

Para complementar outras perspectivas de atuação profissional, compartilhamos nossas experiências na escala da cidade, processos, metodologias e projetos voltadas para o espaço público e seus usuários. A partir da reflexão sobre o papel de arquitetos e urbanistas na construção de cidades mais humanas e do impacto do desenho das cidades na vida dos cidadãos, falamos sobre a promoção do comportamento ativo através da transformação de paisagens e dos hábitos das pessoas.

Como processo de compreensão do espaço urbano, a iniciativa Leituras Urbanas foi apresentada através do conjunto de metodologias que usualmente são utilizadas nos diferentes projetos. De caráter técnico, as pesquisas quantitativas de fluxos de veículos e pessoas e atividades de permanência são importantes para compreensão das dinâmicas que acontecem nos espaços analisados e, também, para traduzir através de dados as indicações e justificativas para os projetos. Para aproximar os usuários do processo de proposições dos espaços e adequá-los às reais atividades e desejos, as pesquisas qualitativas são fundamentais e – na atuação da Cidade Ativa – indispensáveis em todos esses projetos. São entrevistas estruturadas, entrevistas empáticas, painéis interativos, entre outras ferramentas que incorporam e engajam diferentes perfis de usuários nas pesquisas e leituras dos espaços públicos.

Já no Olhe o Degrau, o processo colaborativo é considerado o pilar da iniciativa. Nas diferentes etapas que desenvolvemos as ações – mapeamento e articulação com atores locais; leituras do espaço e usuários; oficinas colaborativas e de engajamento com a comunidade; validação da proposta de intervenção e execução das intervenções – o envolvimento e participação ativa com a comunidade local é o que fortalece o processo e posterior reapropriação do espaço pela comunidade, especialmente por dar voz aos atores, que identificam situações e necessidades cotidianas que vão além do olhar de fora.

Também compartilhamos um pouco dessas experiências a partir do viés tático em que essas intervenções podem acontecer, seja pela possibilidade de readequar o projeto antes de uma intervenção já consolidada, ou pelo potencial de articulação comunitária em participar ativamente da transformação desses espaços e dar novos significados às formas em que ocupam e estão presentes nos espaços públicos da cidade. O bate papo com todos os presentes trouxe diferentes reflexões sobre as atuações em projetos arquitetônicos ou urbanísticos. Independente da escala, o processo colaborativo é um caminho importante para que as cidades sejam cada vez mais humanas.