Marina, um mundo inteiro.
09/11/2020 | por cidadeativa
Cicloativista, feminista, pesquisadora, consultora. Amiga, inspiradora, carismática, contagiante… São muitas as formas de tentar definir Marina Harkot.
A verdade é que Marina era um mundo inteiro.
E o mundo inteiro cabia dentro dela. Ela era FFLCH, era FAU-USP. Ela era LabCidade. Ela ela Ciclocidade. Ela era Escola da Cidade, Banco Mundial, CMTT, Escola de Ativismo, Risco arquitetura urbana, Ape… E Cidade Ativa. Ela ocupava e transformava tantos espaços quanto possíveis (de preferência ao mesmo tempo). Ela nos instigava a refletir sobre outras formas de pensar, fazer e viver cidades.
Nós tivemos a sorte e a honra da Marina ter abraçado a Cidade Ativa, lá em um 2014, quando todo um mundo de pesquisas e ativismos se abria para nós. Por aqui, ficará para sempre não só a lembrança, mas a marca que ela deixou em nossa história, em nossos processos, em nossas ferramentas de leitura, interpretação e transformação dos espaços da cidade; em nossos hábitos, em nossas atitudes.
A verdade é que Marina era mais do que todos os substantivos e adjetivos que podemos listar para tentar explicar o que ela significou pra gente, dentro e fora da Cidade Ativa.
Ela era verbo, ação, movimento.
Marina nos inspirou com seu carisma e curiosidade. Chegou sem medo e mostrou que vinha pra ficar.
Marina compartilhou com a gente sobre o lugar e a forma da escuta – nossas idas a campo, nossos esforços de pesquisa e processos participativos vão sempre levar um pedacinho dela.
Marina nos abriu as portas para o mundo da estatística – nossos questionários de entrevistas vão sempre levar um pedacinho dela.
Marina nos ensinou sobre o método, a excelência e o comprometimento em como interpretamos o que observamos ao nosso redor – nossas planilhas, gráficos, relatórios vão sempre levar um pedacinho dela.
Marina nos trouxe um olhar pra cidade a partir da perspectiva de gênero – nosso cuidado e engajamento com a inclusão sempre levarão um pedacinho dela.
Marina motivou todos nós a pedalar e sentir a liberdade do vento no rosto sobre duas rodas – nossas pedaladas por São Paulo, Três Lagoas, Barcelona, Paris ou Londres vão sempre levar um pedacinho dela.
Ontem, dia 8 de novembro de 2020, ficamos profundamente tristes e abaladas com a sua morte. Sentidas e indignadas com o comportamento do motorista que não somente a atropelou, mas como não parou para socorrê-la. Indignadas com a insegurança em nossas ruas, que ainda matam milhares de pessoas todos os anos. Indignadas quando olhamos ao nosso redor e vemos que, apesar de todos nossos esforços, ainda temos políticos e políticas que desprezam vidas.
Aqui, dizemos que nós somos Cidade Ativa, e a Cidade Ativa é um pouco de cada uma de nós. Um pedacinho nosso parte junto com a partida da Marina. E o vazio que fica vamos preencher não com luto, mas luta – por cidades mais ativas, cicláveis, inclusivas e seguras para todas e todos. Sua voz e presença seguirão conosco.
Marina, sua passagem por esse mundo não foi em vão. Que sua causa, sua garra, seu movimento continuem se multiplicando por nossas cidades e em cada uma de nós. Inspiradas por seu sorriso e sua energia contagiante, seguiremos com nossa luta.
Fique em paz e siga pedalando.