Organizações se articulam em ação na Semana da Mobilidade 2019 promovida pela WRI Brasil.

24/09/2019 | por cidadeativa

Em 1997 era inaugurada na França a primeira comemoração do Dia Mundial Sem Carro. A data, 22 de setembro, foi criada para chamar atenção das pessoas a refletirem sobre a forma como se deslocam e um convidar a experimentar vivenciar a cidade a partir de outras alternativas ao uso do veículo individual.

A Semana da Mobilidade surgiu da urgência de ampliar tais debates e reflexões que permeiam também temas como poluição, meio ambiente e saúde, e foi rapidamente adotada por vários países europeus no começo do século. No Brasil, a Semana da Mobilidade teve início em 2003 e, desde então, diversas cidades organizam a agenda da semana com atividades relacionadas ao tema. 

Esse ano, o WRI Brasil convidou organizações parceiras que atuam na temática a participar de uma ação coletiva: Representantes de cada um desses grupos foram convidados a responder a uma série de questões sobre o contexto da mobilidade urbana. Abaixo, reunimos o resultado da ação, que foi compartilhado por todas as organizações participantes através das redes sociais. Confira as respostas da Cidade Ativa; WRI; Ciclocidade; Corrida Amiga, Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito; Instituto Clima e Sociedade; Instituto Cordial; Quicko e Sampapé:

Como eu posso colaborar para melhorar a mobilidade urbana na minha cidade?

“A mudança começa com a reflexão sobre os meios de transporte que utilizamos no dia a dia. Quando caminhamos, pedalamos ou usamos o transporte público, é possível identificar desafios e oportunidades. Com isso, podemos mapear e nos engajar em discussões e grupos de trabalho que tratam do tema para reivindicar transformações na infraestrutura e garantir melhores oportunidades de acesso à cidade.”  (Mariana Wandarti, Cidade Ativa)

A mobilidade ativa possui especificidades dentro do tema mobilidade urbana?

Os deslocamentos de forma ativa são os mais saudáveis – para as pessoas e para as cidades. Para que as pessoas usem mais esse tipo de mobilidade no dia-a-dia, porém, são necessários alguns incentivos. Caminhar, pedalar, andar de skate – todos requerem esforço físico. Logo a infraestrutura urbana precisa ser segura e confortável em todas as rotas. Bom pavimento, travessias seguras, arborização são algumas das características desejáveis. Velocidade dos automóveis mais baixa (40 km/h ou menos) e boa iluminação das calçadas e ciclovias também tornam o ambiente mais atrativo.  (Paula Santos, WRI Brasil)

Qual o principal desafio de um plano de mobilidade urbana?

Um dos principais desafios dos planos de mobilidade urbana é estabelecer caminhos factíveis, e ao mesmo tempo ousados, para que as cidades passem a priorizar os modos ativos e coletivos de deslocamento. Pode parecer pouco, mas trata-se de uma verdadeira transformação dos centros urbanos. Significa que pedalar, caminhar ou pegar ônibus, trens ou metrôs deverão ser avaliados pelas pessoas, nos próximos anos, como as formas mais eficientes e seguras de locomoção. Mais do que pegar um carro ou um Uber, por exemplo. Estima-se que dois terços das pessoas viverão em áreas urbanas até 2050. Nas cidades, a principal fonte de emissão dos gases estufa é o transporte, fazendo com que ambos – as cidades e os modos de transporte – tenham papel cada vez mais central no desafio das mudanças climáticas. (Flavio Soares, Ciclocidade)

O que as pessoas ganham trocando a viagem que fariam de carro por outra (modos coletivos ou ativos de transporte)?

Importante ressaltar que, no Brasil, 2/3 dos deslocamentos já são realizados a pé e por transporte público coletivo. O transporte público tem um papel fundamental a desempenhar no incentivo de viagens mais ativas, uma vez que a maioria das viagens envolve um passeio de ida e volta para o transporte público em comparação com a experiência muito mais sedentária de viajar de carro. Então, ao trocar a viagem individual motorizada por modos ativos e coletivos, ganha-se muito em termos: ambientais, sociais, emocionais, de bem-estar, econômicos, culturais, de cidadania, apropriação do espaço público, e por aí vai. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2011), por exemplo, recomenda 150 minutos de atividade física por semana, facilmente conquistados ao se optar pelo deslocamento ativo.  Há ainda os ganhos na melhoria da qualidade ambiental do espaço público com um ambiente confortável, baixo nível de ruído, melhora da qualidade do ar (no município de São Paulo, apesar de levar apenas 30% dos passageiros, os automóveis são responsáveis por 73% das emissões de GEE (IEMA, 2017). (Silvia Stuchi, Corrida Amiga

Como a segurança no trânsito ajuda a garantir uma melhor mobilidade para todos?

O tema da segurança viária e da melhoria da mobilidade urbana são totalmente convergentes. Quando priorizamos os modos ativos e coletivos de transporte, e reduzimos o número de veículos automotores circulando nas cidades, geramos mais segurança viária para a população, já que diminuímos significativamente a exposição das pessoas ao risco de atropelamento. A mobilidade ativa de pedestres e ciclistas aumenta quando há mais espaço e melhores condições de infraestrutura nas ruas. Com isso, além de mais faixas e corredores exclusivos de ônibus e transporte sobre trilhos, atinge-se uma divisão do espaço mais igualitária e que estimula um maior deslocamento de pessoas e não só de veículos.   (Pedro de Paula, Iniciativa Bloomberg para a Segurança Global no Trânsito)

Qual a relação da mobilidade urbana com as mudanças climáticas? 

A mobilidade urbana está diretamente relacionada às mudanças climáticas, especialmente se olharmos para os grandes centros urbanos, onde as emissões do setor de transportes são protagonistas. Vale lembrar que o agravamento da qualidade do ar e o aumento dos impactos decorrentes pelas mudanças do clima possuem o mesmo ponto de partida: o escapamento dos veículos. Por isso, é importante trabalharmos para a redução do uso do transporte individual e incentivar os modos ativos e coletivos. Também não podemos esquecer que mobilidade urbana tem a ver com a distância diária de deslocamento das pessoas, sendo assim, garantir acessibilidade à população é outra chave para combater as mudanças climáticas. Dessa forma, garantimos cidades mais sustentáveis e resilientes. (Marcel Martin, Instituto Clima e Sociedade)

Como o governo pode atuar na mobilidade de forma sempre mais inteligente?

Somando esforços à sociedade para construir políticas públicas baseadas em evidências. A mobilidade é um tema complexo que interfere na vida de todos que vivem na cidade. Atuar de forma inteligente buscando garantir uma mobilidade segura, eficiente e justa a todos envolve não apenas conhecimento técnico, mas ação articulada a outros atores da sociedade, entendendo as necessidades da população e somando esforços para fazer as melhores perguntas aos muitos dados disponíveis, procurando sempre respostas para embasar intervenções e políticas públicas. (Luis Fernando Villaça Meyer, Diretor de Operações – Instituto Cordial)

Como será a mobilidade do futuro?

“Compartilhada, sustentável e inteligente. Nossas ruas estarão preparadas para que inovações em serviços de transporte possam conviver em harmonia. As novas tecnologias devem aproximar as pessoas à informação, promover opções de transporte mais saudáveis e aumentar o acesso às oportunidades das cidades.”  (Luisa Feyo Peixoto, Quicko)

O que a mobilidade urbana tem a ver com as mudanças climáticas?

A relação entre a mobilidade urbana e as mudanças climáticas está pautada principalmente pelo consumo excessivo de energia para o deslocamento das pessoas nas cidades, que é agravado pelo alto potencial poluente da mesma. Isto é, os modelos de cidades atualmente exigem grandes deslocamentos diários (por exemplo, de casa ao trabalho) e estes deslocamentos são realizados, muitas vezes, por meios de transporte ineficientes – como os automóveis – e movidos a combustíveis fósseis com elevada emissão de gases de efeito estufa. Reduzir a necessidade de longos deslocamentos diários e promover meios de transportes eficientes e limpos são passos importantes para reduzir os impactos da mobilidade urbana nas mudanças climáticas. (Cristina Albuquerque, WRI Brasil)

O que é mobilidade urbana e por que abordar a partir do caminhar?

A mobilidade urbana é a condição dos deslocamentos nas cidades. Isso significa que as dinâmicas que se dão nas cidades não são apenas pelos modos transporte disponíveis, mas também pela distribuição da moradia e oportunidades na cidade, pela experiência no espaço público, pelas trocas entre as pessoas, pela qualidade do ar, entre tantas outros elementos que impactam nas condições de se deslocar e acessar a cidade. Abordamos a mobilidade a partir do caminhar, pois além de ser como todas as demais alternativas e lugares se conectam e ser a forma mais inclusiva e sustentável de estar na cidade, a perspectiva a pé, coloca as pessoas como protagonistas e agrega um olhar mais complexo e humano à vida nas cidades.  (Leticia Sabino, SampaPé!)