Graffiti: transformando paisagens, ocupando lugares
31/10/2018 | por cidadeativa
*Texto publicado originalmente no Archdaily Brasil e Mobilize*
Caminhando pelas ruas, nos deparamos com diversas formas, cores, texturas, sons e cheiros. Nossos sentidos são ativados e esses estímulos nos fazem conectar com o lugar em que estamos. As cidades são, muitas vezes, sinônimo de fumaça, ruídos de motores e buzinas, tons de cinza. A escassez de elementos naturais ou construídos que transmitam a sensação de segurança, conforto e que nos agradem esteticamente influencia para que sigamos descontentes e frustrados no ambiente urbano. Esses sentimentos alimentam a falta de conexão entre pessoas e lugares, a falta de empatia com o outro e descompromisso com aquilo que é público.
Apesar disso, diversas condições podem ser agradáveis aos nossos olhos: paisagens, rostos, artes e arquitetura, por exemplo. A percepção dos nossos sentidos, como seres humanos, é aguçada pela variedade constante desses elementos ao nosso redor. Através do graffiti, a cidade é preenchida por um novo significado, uma diversidade de mensagens, desenhos e expressões realizadas por artistas, tornando-se um importante meio de expressão, registrando histórias e manifestações, conservando as identidades das comunidades locais.
Na experiência da Cidade Ativa, esse tipo de ação também pode ser uma ferramenta eficaz para despertar o olhar, a importância e o cuidado por esses espaços, especialmente quando a comunidade também se envolve no processo de transformação.
É claro o impacto dos graffitis na cidade e na experiência do cidadão. Mas então, o que motiva a atuação desses artistas? Para responder à essa pergunta, convidamos a organização Ciclo Social Arte, que transforma os espaços públicos principalmente através da arte em São Paulo.
Como a Ciclo Social Arte foi formada?
A Ciclo Social Arte foi formada em 2015, por mim (Michel) e outros 6 amigos, tínhamos a intenção de transformar o bairro onde vivemos (Jardim Ângela) através da arte urbana e então passamos a fazer ações para isso.
Qual foi a principal motivação de vocês?
Trazer cultura para o bairro do Jardim Ângela! Sentimos que nossa região tinha uma necessidade cultural enorme e o graffiti foi a ferramenta que tínhamos para utilizar.
Quem faz parte da Ciclo Social Arte?
A formação inicial é Michel Onguer, Helton Silva, Ludmila, Will, Boy, Daniel Odel e Talita Noah. Mas é difícil falar quem faz parte hoje, atualmente eu (Michel) e Helton que estamos a frente das articulações organizando cada passo. Quando as ações vão acontecer quase todos participam, temos um grupo com outros parceiros que sempre nos ajudam em diversos momentos.
Na atuação de vocês, como percebem que o graffiti promove a inclusão social? Quais são os impactos sociais?
Graffiti tem o poder de transformar o ambiente que ocupa. Os espaços que ocupamos normalmente são bem esquecidos e quando estamos em ação já acontece uma interação bem legal com os moradores que vão conviver com a pintura diariamente, depois percebemos que as crianças e outras pessoas passam a cuidar melhor do ambiente, as “selfies” são algo que vemos frequentemente. A arte faz com que o ambiente passe a ser melhor ocupado.
Qual a relação de vocês com os espaços públicos da cidade? O que mudou desde que começaram a atuar com arte nesses lugares? E a relação com o Jardim Ângela?
Transitamos o tempo todo pela cidade e ocupamos com arte todo espaço que seja possível e interessante, criamos dessa forma um diálogo com as pessoas e as respostas são rápidas. No início, causamos muita dúvida no bairro (Jardim Ângela), mas com tempo as pessoas foram entendendo que era algo para o benefício do local e passaram a se aproximar e querer ajudar nas nossas ações.
E quando vocês começaram a atuar fora do bairro do Jardim Ângela? Mudou alguma coisa?
Acabamos entrando no radar de algumas escolas e alguns equipamentos públicos que nos rodeiam e as nossas ações aumentaram de uma maneira que não imaginávamos. Não abandonamos nosso bairro, continuamos nossas ações, mas a expansão das ações tem levado a novas necessidades.
Como vocês imaginam a atuação de vocês no futuro? Onde querem estar ou o querem estar fazendo?
Estamos amadurecendo e trabalhando para o crescimento do projeto, para tornar mais consistente. Estamos em busca de financiamento, parceiros e possibilidades que façam com que alcancemos mais pessoas e comunidades.
Desde 2016, a Cidade Ativa atua em parceria com a Ciclo Social Arte na iniciativa Olhe o Degrau. Entendemos que é fundamental somar nossas energias – seja cidadão comum, organizações da sociedade civil e poder público – para transformarmos e reivindicarmos cidades mais inclusivas, resilientes e saudáveis.