Webinar [06]: O que está sendo feito pela mobilidade a pé?
26/06/2020 | por cidadeativa
*texto publicado originalmente no Medium do Como Anda*
Nas cidades compartilhamos distintos contextos e vivências, e é através de diferentes perspectivas e atuações que buscamos medidas para um ambiente mais justo e resiliente. A troca de informações e conhecimentos faz parte desse processo que sustenta as bases para as transformações necessárias. Novas ações, pesquisas e campanhas voltadas para a mobilidade a pé foram o foco de mais um encontro virtual promovido pelo Como Anda.
No dia 22 de junho, a equipe do Como Anda abriu o espaço para diferentes pessoas que têm iniciativas, pesquisas e campanhas voltadas para a mobilidade a pé a apresentarem seus trabalhos envolvendo o tema da mobilidade a pé. Durante o sexto papo da série, ouvimos e discutimos questões apresentadas por 8 apresentações que abrangeram uma grande diversidade de enfoques. Os convidados foram: Douglas Farias , cofundador do Metrópole 1:1; João Melhado, mestre em Administração Pública, com foco em política urbana, pela Universidade Columbia (NY/EUA); Marcio de Morais, colaborador do Instituto Corrida Amiga; Rodrigo de Carvalho, coordenador de Monitoramento na Gerência de Gestão Urbana da Prefeitura Municipal de Vitória (ES); Silvia Stuchi Cruz, pós-doc do Programa de Pós-graduação em sustentabilidade (EACH – USP); Rodrigo Pardo – CEO e fundador da Walklaw, Vania Galleguillos, mestranda do Programa de Mudança Social e Participação Política Escola de artes, ciências e humanidades (EACH – USP); e Wanessa Spiess, idealizadora do CalçadaSP e colaboradora do Cidadeapé. O papo ainda teve a excelente mediação feita por Thatiana Murillo, Cofundadora e diretora do movimento Caminha Rio.
Os resumos dos trabalhos, de autoria dos proponentes e participantes, são apresentados abaixo:
Calçadas e o Pensamento Pedestre (Wanessa Spiess)
A pesquisa propõe observar a relação de porosidade entre os diferentes atores e a formulação de políticas públicas no âmbito da mobilidade urbana, com foco central nas calçadas paulistanas. As calçadas são aqui entendidas como lugar de passagem mas também de permanência e, como tal, produto de relações sociais. A análise tem como foco as primeiras duas décadas dos anos 2000 e, assim, considera o debate em torno dos planos de mobilidade urbana, da priorização do pedestre como um dos principais atores do processo e da utilização das instâncias de participação social, que deveriam ser fortalecidas a partir do advento do Estatuto da Cidade (2001). A proposta é entender as diferentes camadas das possíveis relações que se estabelecem entre os agentes e que geram impacto no planejamento urbano de uma cidade complexa como São Paulo e como a mobilidade a pé pode, por hipótese, fazer a conexão entre elas.
Calçada Cilada em tempos de pandemia (Marcio Morais, Instituto Corrida Amiga)
A Campanha Calçada Cilada, idealizada pelo Instituto Corrida Amiga, com o apoio de inúmeras organizações parceiras, tem o objetivo de engajar a população em favor de cidades caminháveis e acessíveis. Em suas seis edições anteriores foram registradas mais de 8000 ciladas ao pedestre, chamando atenção para calçadas irregulares, falta de acessibilidade, calçada inexistente e faixa de pedestre apagada. Este ano, a fim de priorizar aspectos qualitativos e pela impossibilidade de estar nas ruas para registrar das ciladas, será utilizada uma consulta pública digital em parceria com o Colab. Nessa consulta, a população apontará as localidades onde melhorias nas calçadas são necessárias, com um recorte para as proximidades dos equipamentos de ensino e saúde, além de listar os principais problemas encontrados no deslocamento a pé. A consulta pública trará esse aspecto qualitativo para a campanha deste ano, tanto pelo seu recorte espacial nos apontamentos das ciladas, quanto na classificação destas.
Consulte o site da campanha em: http://corridaamiga.org/campanhas/calcada-cilada/
Pesquisa: acesso aos espaços públicos na pandemia (Douglas Farias; Metrópole 1:1)
Muito se especula sobre qual cenário construiremos ao final da pandemia, como vamos nos preparar para eventos futuros, quais traumas e novas práticas sociais impostas irão alterar as relações entre as pessoas, e com isso, qual será o futuro das cidades? Dessa forma, na tentativa de responder essas questões, decidimos escutar as pessoas sobre sua relação com os espaços públicos e sobre os sentimentos e reflexões provocados pela situação de restrição da vida social urbana. Para isso, elaboramos a pesquisa: “Acesso aos espaços públicos na pandemia”, que, por meio de questionário online, buscou compreender a relação das moradoras e moradores da cidade de São Paulo com os espaços públicos, antes e durante a pandemia, além das expectativas de mudanças de hábitos e melhora do ambiente urbano pós pandemia. Após o encerramento da pesquisa, as equipes do Sampapé! e Metrópole 1:1 seguem analisando os dados.
Veja a apresentação exibida durante o papo pelo link: Acesso aos espaços públicos na pandemia
Urbanismo tático como instrumento de autonomia local para a potencialização de usos dos espaços públicos (Rodrigo de Carvalho)
Há décadas as limitações de mobilidade urbana estão postas à mesa dos planejadores e agora urgem por soluções, face à pandemia. As necessárias adequações no uso do transporte coletivo e a potencial ampliação do uso do automóvel particular conduzem à mobilidade ativa como alternativa mais viável à circulação nas cidades do ‘novo normal’ – talvez a única. Recaem implicações sobre o espaço ocupado pelo automóvel, em movimento ou parado. Reside um desafio em equilibrar demandas imprevisíveis e lapidar, em tempo hábil, as táticas cabíveis a cada localidade, conduzindo o urbanista a adotar questionários e mapas colaborativos que auxiliem na priorização de espaços e escalas de intervenção. A micromobilidade, libertária e volátil, requer ações com baixa mobilização de recursos e elevado grau de adequabilidade e escalabilidade. A palavra de ordem é autonomia: menos imposições tecnocráticas e mais eco às polifonias da cidade, cumprindo ao planejador urbano tão somente instrumentalizar os espaços públicos para acolherem as vocações locais. E era disso que se tratava o urbanismo desde sempre.
Mobilidade urbana sustentável e Urbanismo Tático: experiências de inovação em serviços públicos (Silvia Stuchi; Sonia Paulino)
No contexto das megacidades nos países em desenvolvimento, uma das questões centrais a ser abordada é a expansão urbana sustentável, que exige medidas com uma abordagem dupla (infraestrutura e serviços públicos). O objetivo é analisar experiências que utilizam urbanismo tático em São Paulo, adotando a abordagem de inovação em serviços. Quatro iniciativas são selecionadas: Ativação de Espaços Públicos, Áreas 40, Ruas Completas e Rotas Escolares Seguras. Com base nas novas competências e técnicas dos prestadores de serviços, nossas descobertas fornecem evidências de que, por meio de intervenções de curto prazo e de baixo custo no tratamento de infraestrutura para pedestres e ciclistas, foram introduzidos serviços públicos com o objetivo de promover a reestruturação de base e uma reapropriação coletiva do espaço urbano. Essas inovações são inicialmente temporárias, criando um desafio para a subsequente transformação em serviços públicos que gerem benefícios ambientais; ou, em um serviço que seja permanente e integre o transporte ativo ao transporte público coletivo.
Mais informações podem ser acessadas no artigo publicado na Revista Brasileira de Gestão Urbana
Transformando a experiência humana em ambientes urbanos: walklaw, consultoria em acessibilidade para capacitação de exploração inclusiva dos espaços (Rodrigo Pardo)
Observando como as cidades são moldadas e sonhando em “transformar a selva de pedras em um jardim urbano” incorporamos nossa responsabilidade enquanto agentes transformadores da remodelação do espaço a nossa volta, apropriando-nos de sermos facilitadores da inclusão social e promotores da dinâmica interativa entre ser humano e ambiente. Uma consultoria em acessibilidade que atua no microambiente da mobilidade para elevar a perspectiva e sensibilizar o uso do meio urbano ao nível do indivíduo, sem discriminação qualquer.
Atuamos tanto em imóveis residenciais quanto comerciais, em espaços públicos e privados e também ambientes digitais, promovendo sua transformação em inclusivos, democráticos e harmoniosos ao uso de todos.
Estamos alinhados com a agenda da ONU 2030, entregando mais saúde e bem-estar, inovação para cidades sustentáveis e mais igualdade social.
Veja mais sobre a empresa no site: https://www.walklaw.com.br/
A Cidade Estacionada: Uma análise sobre a gestão do meio-fio e da Zona Azul em São Paulo (João Melhado)
Este é um estudo recém-lançado, que trata de um dos espaços urbanos mais importantes e negligenciados: o estacionamento público. A análise se foca em São Paulo, mas apresenta ideias aplicáveis a qualquer cidade brasileira. Essas áreas, também chamadas de meio-fio, representam muito das nossas cidades. Na capital paulista, são pelo menos cinco milhões de metros quadrados, três parques Ibirapueras, destinados a estocar carros privados – a maioria de graça. É um espaço público que pode ser muito mais democrático.
O estudo propõe quatro ações objetivas nesse sentido:
- Estudar o meio-fio, analisando quais os usos mais necessários em cada rua, dando sempre prioridade à mobilidade ativa e ao transporte coletivo;
- Precificar o estacionamento público conforme a oferta e demanda de cada região, em diferentes horários;
- Automatizar a fiscalização, criando regras para a coleta, uso e gestão dos dados;
- Reverter os recursos para incentivar outros meios que não o carro.
A apresentação exibida durante o papo pode ser visualizada pelo link: A Cidade Estacionada
E o estudo completo está disponível em https://www.acidadeestacionada.com/
Lideranças na área de promoção da atividade física, ambiente construído e saúde (Vania Susana Brassea Galleguillos; Douglas Roque Andrade; Alex Antonio Florindo)
Este estudo faz parte do projeto temático de pesquisa Ambiente Construído, Atividade Física e Estado Nutricional em Adultos: Um Estudo Longitudinal, projeto financiado pela FAPESP e coordenado pelo Prof. Dr. Alex Antonio Florindo. O objetivo dessa pesquisa, foi impulsionar a aproximação com as lideranças da área de gestão pública, privada e da sociedade civil organizada com foco na promoção da atividade física, ambiente construído e políticas públicas de saúde. Por meio de roteiro estruturado, foram entrevistadas 18 lideranças desses setores, dividido em cinco blocos temáticos: Identificação pessoal e institucional; Informações existentes; Sugestões sobre coleta de dados; Estratégias para disseminação e utilização e Vínculo com o projeto, com o intuito de produzir coletivamente as melhores evidências científicas para que os programas de promoção da atividade física sejam mais bem planejados, desenvolvidos, avaliados e tenham garantida sua continuidade.
Veja os relatos completos…
O debate ainda engajou os participantes que, em uma série de perguntas, aprofundaram mais o tema, e discutiram mais profundamente detalhes sobre as pesquisas, campanhas e projetos. Por isso, registramos e disponibilizamos esse encontro no nosso canal do Youtube:
Agradecemos mais uma vezes a todas as pessoas convidadas e ao público que esteve online neste webinar. Se você se interessou no assunto, o Como Anda vem compartilhando aprendizados do mapeamento e dos relatos detalhados de experiências de defesa na mobilidade a pé estudados em uma nova fase do projeto, iniciado em 2019. Essas leituras atentas nos levaram a identificar as principais estratégias, as táticas e ferramentas que os grupos usaram nessas ações e refletir como esse conhecimento poderia ser replicado e aplicado em casos semelhantes — e assim, quem sabe, também inspirar mais pessoas a defenderem a mobilidade a pé nas eleições deste ano. Além de estarmos formatando uma publicação e compartilhando os destaques dessas experiências em posts nas mídias sociais, também seguimos organizando uma série de webinars com especialistas e pessoas interessadas para discussão sobre como defender a mobilidade a pé —- antes, durante, ou depois das Eleições municipais de 2020. Foram 5 webinars, anteriores a este, com diferentes abordagens para a defesa da mobilidade a pé. Vejam os relatos:
- Webinar [01]: Ativismo e advocacy para a mobilidade a pé
- Webinar [02]: Mobilização e engajamento em campanhas
- Webinar [03]: Manifestos para uma cidade pós-coronavírus
- Webinar [04]:(Re)conquistando espaços para pessoas
- Webinar [05]:Eleições: Aprendizados, perspectivas e oportunidades
Se animou e que somar com a gente? Ainda teremos outras discussões interessantes pela mobilidade a pé. Preencha o formulário disponível neste link e faça parte de um grupo de diferentes perfis e um interesse comum: se engajar pela mobilidade a pé. Fique de olho e acompanhe mais sobre táticas, ferramentas e outros estudos de caso nas nossas redes sociais (Instagram e Facebook). Juntas e juntos, vamos longe!
Como Anda é o ponto de encontro de organizações que promovem a mobilidade a pé no Brasil, um projeto em desenvolvimento desde janeiro 2016 pelas organizações Cidade Ativa e Corrida Amiga através do suporte financeiro do iCS. Na terceira fase (2019-2020), o projeto está investigando experiências de incidência política na mobilidade a pé.
Agradecemos mais uma vezes a todas as pessoas convidadas e ao público que esteve online neste webinar. Se você se interessou no assunto e quer assistir o webinar completo com todas as apresentações, registramos e disponibilizamos esse encontro no nosso canal do Youtube.