O espaço público como objeto de transformação social
31/07/2018 | por cidadeativa
*Texto publicado originalmente no Archdaily Brasil e Mobilize*
Existem hoje no Brasil diversos grupos com iniciativas que visam melhorar o ambiente em que vivemos. Infelizmente, muitos enfrentam dificuldades para tirar suas ideias do papel, principalmente, por escassez de recursos financeiros, conforme mostram dados levantados pelo Projeto Como Anda.
A Fundação Fenômenos enxerga essa demanda como uma oportunidade: através do Desafio Fenômenos, a organização apoiou a execução de três ideias com grande potencial transformador na cidade de São Paulo. A premissa do Desafio foi selecionar ações que contemplassem atividade física e sustentabilidade em áreas vulneráveis, com soluções para problemas existentes nesses locais. Os grupos selecionados foram: Cidade Ativa, Movimento Social Canto da Arte Jaguaré e o Coletivo Dente de Leão. A escolha pelos contemplados considerou critérios como impacto, viabilidade e como o programa poderia contribuir para potencializar os projetos.
De outubro de 2017 à maio de 2018, as organizações executaram suas atividades e, também, contaram com uma mentoria feita pela equipe Maniê. Esse processo auxiliou o planejamento estratégico e reflexão sobre as ações para cada grupo, identificando desafios e oportunidades ao longo do trabalho.
Conheça a seguir as três iniciativas contempladas:
Desenvolvido pela Cidade Ativa desde 2014, o projeto Olhe o Degrau realizou sua quarta ação, desta vez em uma escadaria localizada em frente à EMEF João Franzolin Neto, no bairro Parque Cisper em Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. A requalificação da escadaria contou com diversas etapas de engajamento com a comunidade escolar, moradores do entorno e artistas locais e, também, intervenção física no espaço que viabilizaram desejos dos frequentadores do escadão. Com a ajuda de voluntários e parceiros, foi possível construir mobiliários em madeira e pneu; produzir um mural de graffiti em homenagem aos poetas da região e criar rotas com pinturas temáticas ao longo da escadaria, promovendo maior segurança e conforto para quem se desloca pelo local.
O movimento social Canto da Arte Jaguaré atua no território da Vila Nova Jaguaré, zona oeste de São Paulo, com a proposta de melhorar a infraestrutura aos moradores da região para incentivar a prática de atividades físicas e ocupação de espaços públicos do bairro. O projeto resultou na construção de uma pista de caminhada, instalação de equipamentos desportivos construídos a partir de materiais reutilizáveis e a construção de um bicicletário com bicicletas reformadas que poderão ser alugadas por moradores da região.
Desenvolvido pelo Coletivo Dente de Leão, o projeto Pedalar, Caminhar e Semear visa a requalificação de um trecho do Parque Linear Zilda Arns, em Sapopemba, zona leste da cidade de São Paulo. Através de mutirões comunitários para o plantio de árvores, limpeza e manutenção do espaço, foi possível oferecer um trajeto confortável e seguro para os transeuntes do parque. Ainda, houve uma articulação e mobilização com a comunidade local para se apropriarem de espaços do parque para a prática de atividades físicas.
Apesar das particularidades de cada iniciativa, há uma estratégia comum entre elas: todas ocuparam espaços públicos como um ponto de encontro para mobilização e engajamento com a comunidade local e como objeto para transformação física, reforçando o uso desses lugares também para incentivar a mobilidade a pé e por bicicleta. Além disso, a ocupação do espaço público – seja para atividades de permanência ou para garantir o ir e vir com maior segurança – também ajudou a fomentar a ideia de que todos os cidadãos são responsáveis pela zeladoria e manutenção dos espaços da cidade.
“O Desafio Fenômenos foi um importante espaço de experimentação na cidade. As iniciativas puderam refletir sobre o espaço de intervenção, atuando junto com a comunidade local e testando diversas premissas para melhorar a qualidade de vida da população. É impressionante ver como o recurso é multiplicado quando a comunidade se envolve e as iniciativas podem agir de maneira estratégica”. Alex Fisberg – diretor geral da Fundação Fenômenos.