Pesquisadores propõem Teia de Lazer e Atividade Física para integração de programas da Prefeitura de SP
15/09/2017 | por cidadeativa
Crédito: Cidade Ativa
Programas de abertura temporária de ruas e ciclofaixas se revelam como grandes oportunidade para facilitar o acesso ao lazer nas ruas da cidade, promovendo o usufruto dos espaços públicos e o convívio e interação entre as pessoas. Thiago Herick de Sá e Leandro Garcia, pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP, e Douglas Andrade, pesquisador da Escola de Artes e Ciências Humanas da USP, autores do artigo Reflexões sobre os benefícios da integração dos programas Ruas de Lazer e Ciclofaixas de Lazer em São Paulo, contaram à Cidade Ativa que o estudo propõe discutir os possíveis ganhos sinérgicos da aproximação dessas duas iniciativas, formando uma “Teia de Lazer e Atividade Física”.
Segundo eles, as Ciclofaixas de Lazer ampliam a mobilidade das pessoas por diferentes regiões da cidade, podendo interligar diferentes Ruas de Lazer. Já as Ruas de Lazer estimulam a participação dos moradores na organização e tomada de decisão sobre o que e como reinventar o espaço da rua para atividades físicas e culturais de lazer, despertando comprometimento e sentimento de pertencimento com o entorno do lar e com a cidade. Douglas destaca que “ambos os programas estão sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, o que também facilitaria a integração entre eles.”
Imagem: Ilustração do conceito de Teia de Lazer e Atividade Física.
Fonte: Thiago Hérick de Sá, Leandro Martin Totaro Garcia, Douglas Roque Andrade
Elaboração: Cidade Ativa
A pesquisa aponta que a integração das Ruas de Lazer e Ciclofaixas de Lazer poderia tornar ambos programas mais sustentáveis, otimizando recursos financeiros, humanos e logísticos, e facilitando o planejamento de iniciativas conjuntas, como um calendário comum de ações turísticas, culturais e esportivas. Além disso, dar visibilidade a esses dois programas permitiria identificar na cidade espaços de lazer ainda escondidos ou conhecidos apenas por quem mora ou está próximo a uma Rua de Lazer. “É provável que as pessoas se surpreendam com a quantidade de atividades que estão disponíveis em nossa cidade. Ainda, a ampliação e interação de pessoas nos diversos espaços públicos é um benefício por si, pois fortalece a percepção de que a cidade pode ser acolhedora e promover espaços saudáveis de convivência e de oportunidades de lazer”, acrescenta Douglas.
Por outro lado, assim como ocorre em outras ações, programas e políticas públicas, o maior desafio seria a coordenação e integração intra e intersetorial, além da gestão, que é distinta entre os dois programas. “Ambos estão sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, mas são geridos por grupos distintos dentro da secretaria. Os dois programas têm a Companhia de Engenharia de Tráfego como um parceiro em comum, ao mesmo tempo que têm parceiros próprios – nas Ruas de Lazer, a sociedade civil; nas Ciclofaixas de Lazer, a Federação Paulista de Ciclismo e o Banco Bradesco”, lembrou Leandro.
As Ciclofaixas de Lazer mostram que é possível uma articulação entre equipamentos permanentes. “Muitas das Ciclofaixas de Lazer interligam parques importantes da cidade – ainda que somente no final de semana e, na sua maioria, na região central -, mas poderiam incluir ainda outros equipamentos, como Clubes do SESC, Clubes da Comunidade, escolas com o Programa Escola da Família, ciclovias e ciclofaixas permanentes, entre outros”, revelou Thiago. Com relação ao futuro dessa teia de lazer e atividade física, é necessário que sua expansão considere que, atualmente, a malha das Ciclofaixas de Lazer é concentrada na região central da cidade, enquanto que as Ruas de Lazer são mais numerosas nas regiões periféricas. Uma distribuição mais equânime de ambos pela cidade aumentaria o acesso das pessoas a essa diversidade de opções culturais e de lazer. Recentemente, o tema foi alvo de polêmicas porque a Prefeitura de São Paulo ampliou a Ciclofaixa de Lazer na Avenida Brasil, em uma das áreas mais ricas da cidade, dias depois de anunciar a desativação de trecho na periferia sul da cidade.
Imagem: Distribuição das Ruas de Lazer, das Ciclofaixas de Lazer e das estruturas cicloviárias permanentes na cidade de São Paulo. São Paulo, 2016.
Fonte: Thiago Hérick de Sá, Leandro Martin Totaro Garcia, Douglas Roque Andrade
Elaboração: Cidade Ativa
A articulação de políticas, orientada para o bem-estar da população paulistana, esbarra no Plano de Metas da atual gestão, que pouco integra a mobilidade ativa e atividade física a outros eixos e temas. “As linhas de ação poderiam conversar mais com o que se planeja nos demais setores e eixos do plano de metas. Por exemplo, a mobilidade ativa é influenciada pela oferta de serviços e empregos próximo aos locais em que as pessoas moram, assim como pela percepção de segurança. Um plano de mobilidade ativa não pode estar separado dos planos de urbanização e promoção da segurança pública e da cultura de paz” destacam os pesquisadores.
No Plano de Metas da cidade de São Paulo, pretende-se, até 2020, aumentar em 20% os adultos que praticam ao menos 150 min/ sem de atividade física de intensidade moderada (ou 75 min/sem se vigorosa) no lazer. Embora apontada como ambiciosa pelos pesquisadores, eles comentaram que a meta poderia ser melhor em três aspectos:
(1) incluir o transporte ativo além do lazer, incorporando mais um domínio em que a atividade física pode ser inserida no cotidiano das pessoas;
(2) ser direcionada ao combate da inatividade física (0 min/sem – um indicador distinto), isto é, garantir que todas as pessoas tenham a possibilidade de realizar alguma atividade física de lazer e/ou transporte regularmente; e
(3) abranger também crianças, adolescentes e idosos, já que o indicador atual é focado em adultos.
Ainda, segundo os pesquisadores, os marcos ou indicadores das linhas de ação muitas vezes ficam aquém do que é necessário para que se atinja a meta desejada, já que muitos deles se limitam ao lançamento de um programa ou campanha. “Parece-nos muito pouco para quem vislumbra um aumento de 20% até 2020. Poderiam ser incluídos indicadores mais específicos relacionados à sustentabilidade institucional e alcance populacional, por exemplo” recomenda Leandro.
Com relação aos programas de lazer aos domingos e feriados, o Plano apresenta uma meta dedicada à implantação de mais Ruas de Lazer e nenhuma menção às Ciclofaixas de Lazer. Douglas sugere que “além da meta de expansão das Ruas e Ciclovias de Lazer, uma proposta de Teia de Lazer, como sugerimos no nosso artigo, e uma meta dedicada à sustentabilidade e qualificação de ambos os programas poderiam ser incorporadas”. Em um contexto de desativação de trechos ou problemas no funcionamento dos programas, fica claro que integrar e fortalecer essas iniciativas em todas as regiões da cidade é fundamental para fomento da prática de atividade física, descentralização dos locais de prática e redução das desigualdades de acesso ao lazer.
*Texto publicado originalmente no Mobilize.