Mobilidade urbana no centro da agenda climática
dezembro 3, 2025 | por cidadeativa
Os impactos dos padrões de mobilidade sobre o clima já são amplamente conhecidos. O Balanço Energético Nacional 2024 aponta que o setor de transportes foi o maior consumidor de energia do país, responsável por 33% do consumo total. Já o Inventário Nacional de Emissões revela que o transporte responde por 11% das emissões brasileiras, o equivalente a 217,5 milhões de toneladas de CO₂. Para visualizar esse número: seria como 48 milhões de carros rodando por um ano.
Mas agora, além do impacto que a mobilidade causa no clima, estamos sentindo também como o clima impacta a nossa mobilidade.
Quando uma enchente bloqueia o corredor de ônibus, quando o calor extremo torna quase impossível caminhar até a escola, quando a falta de sombra faz alguém desistir da bicicleta… o caminho muda. E essa mudança já está acontecendo diariamente, em muitas cidades brasileiras. A adaptação climática precisa estar no centro do planejamento urbano e do remodelamento de nossas cidades.
Estudos recentes ajudam a dimensionar o tamanho do desafio:
- Um estudo com 272 cidades latino-americanas, incluindo brasileiras (HSU et al., 2025), mostrou que os dias de calor extremo estão associados a um aumento significativo nas mortes no trânsito. O risco é ainda maior em áreas com alta urbanização, muita motorização e entre pessoas de baixa renda, que são mais expostas e têm menos alternativas de deslocamento seguro.
- Em Belo Horizonte, pesquisa recente (MARQUES, 2024) demonstrou que as chuvas intensas causam bloqueios, alagamentos e interrupções que reduzem drasticamente a eficiência do transporte público — um impacto que tende a se tornar mais frequente.
- Em cidades como Chicago, Atlanta e Nova York, o uso do transporte coletivo caiu até 50% em dias de calor extremo (LEVY, 2024). Muitas pessoas migram para veículos particulares climatizados.
- Em Nova York, o uso de bicicletas compartilhadas diminui durante o dia e aumenta à noite, quando as temperaturas ficam mais amenas (LI, 2024). A bicicleta, modal fundamental para uma mobilidade de baixo carbono, se torna menos atraente quando as cidades não oferecem sombra, conforto e infraestrutura segura.
E esses estudos podem ser facilmente materializados no cotidiano de diversas pessoas nas cidades brasileiras. As cenas de pessoas tentando atravessar ruas alagadas, se equilibrando em calçadas inundadas, caminhando no sol escaldante ou enquanto esperam um ônibus sem abrigo são cada vez mais comuns.
As cidades do mundo estão aquecendo duas vezes mais rápido que a média global, por causa das ilhas de calor urbanas (UNEP, 2021). Um estudo em Piracicaba (SP) (MENDES et al., 2021) mostrou que, em um dia de sol, o asfalto sem sombra pode atingir 79ºC, enquanto uma área sombreada não passa de 35ºC.
Quando o clima muda o caminho, muda também a cidade e essas transformações afetam tudo: como vivemos, trabalhamos, estudamos, encontramos pessoas e nos movemos.
Com o Brasil no centro das discussões globais, especialmente após sediar uma COP histórica, o mundo olha para nós. E nossas cidades precisam estar preparadas para responder a essa nova realidade. Porque é nas ruas, nas calçadas, nas praças, nas ciclovias e nos pontos de ônibus que sentimos a crise climática. E é nesses espaços que as soluções também precisam nascer.
A resposta passa por fortalecer um conjunto de estratégias que reduzem emissões, aumentam o conforto climático e tornam a mobilidade urbana mais resilientes, como:
- Calçadas seguras e sombreadas
- Infraestruturas cicláveis contínuas e protegidas
- Transporte público eficiente, confiável e acessível
- Restauração de várzeas
- Soluções baseadas na natureza que refrescam, melhoram a absorção e/ou drenagem de águas pluviais
- Aumento de áreas verdes e arborização
- Redução da dependência dos combustíveis fósseis nos deslocamentos
- Sistemas de alerta e comunicação com a população que apoiam ações emergenciais
- Refúgios climáticos que oferecem proteção durante calor extremos, chuvas intensas e outros eventos climáticos
A crise climática já está afetando a forma como nos deslocamos. E isso exige que a mobilidade urbana — especialmente a mobilidade ativa e o transporte público — esteja no centro das políticas de adaptação e mitigação.
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