REINCORPORANDO A NATUREZA NA CIDADE: UMA SOLUÇÃO PARA MÚLTIPLOS PROBLEMAS URBANOS

outubro 17, 2025 | por cidadeativa

*Este texto foi originalmente escrito para o Portal Connected Smart Cities em 14/03/2023 pela colaboradora Marcia Trento, aqui reproduzido na íntegra.

Tecnologias inspiradas em sistemas naturais chamadas de Soluções baseadas na natureza (SbN) ou adaptação baseada em ecossistemas (AbE) podem ser a chave para um desenho urbano para cidades mais resilientes, inteligentes e saudáveis.

Os efeitos das mudanças climáticas estão cada vez mais evidentes no nosso dia-a-dia. A combinação de riscos climáticos com uma rápida e intensa urbanização, como a verificada nas cidades brasileiras desde meados do século XX, acaba muitas vezes por expor a população urbana a problemas variados, como picos de temperatura, chuvas intensas que resultam em alagamentos, perda de biodiversidade, e também perdas econômicas e o aumento da desigualdade sócio-espacial.

Para responder a essas e outras questões cada vez mais urgentes das nossas cidades, tornando-as mais resilientes, agradáveis e saudáveis, podemos aprender mais uma vez olhando para os sistemas naturais e a ciência. As chamadas soluções baseadas na natureza (SbN) são tecnologias que se inspiram nos sistemas naturais para responder a questões contemporâneas de maneira eficiente, holística e relativo baixo custo.

As experiências pelo mundo demonstram cada vez mais a efetividade das soluções para responder tanto a questões ambientais como também a problemas urbanos como a infiltração e tratamento das águas pluviais, tratamento de esgoto, controle de ilhas de calor, melhoria da qualidade do ar, melhoria da qualidade de vida, aumento da biodiversidade urbana, melhoria dos espaços públicos e até mesmo impacto sobre a saúde mental podem ser associados à renaturalização das cidades.

Pensar a renaturalização das nossas cidades como um projeto holístico e multissetorial pode ser uma saída inteligente e economicamente muito efetiva para responder a demandas de infraestrutura, de saúde e de lazer, além da urgente questão climática e ambiental que deve ser encarada nas próximas décadas.

Jardim de Chuva Parque Mun Lagoa do Nado – Crédito: Prefeitura de Belo Horizonte.

Jardins de chuva, áreas de biorretenção, corredores verdes, alagados construídos (wetlands), telhados verdes e biovaletas são algumas das soluções urbanas possíveis dentro desta perspectiva. Tais soluções podem tanto serem desenhadas e planejadas em uma escala pontual e local, como idealmente serem incorporadas nos planos municipais para que a escala possa responder aos problemas de maneira mais ampla.

Entre outras experiências realizadas no mundo, seja sob o nome guarda-chuva de soluções baseadas na natureza, adaptação baseada em ecossistema, infraestrutura verde-azul, cidades esponja ou similares, vale citar alguns exemplos dinamarqueses. A iniciativa Vandplus, por exemplo, implementou projetos pilotos para comprovar o benefício econômico ao se planejar de maneira unificada a drenagem e o desenho urbano qualificado. Já  o plano para uma vizinhança climaticamente resiliente em Østebro, em Copenhague, transformou vias largas em agradáveis ruas arborizadas com áreas de refúgio, incremento da biodiversidade infiltração e tratamento local de águas pluviais, utilizando para isto as áreas residuais planejadas anteriormente para os automóveis e intervindo nas áreas comuns dos conjuntos edificados. Há também locais onde jardins de chuva foram implementados como buffers de proteção entre a área da rua destinada aos carros e a ciclovia, melhorando a segurança e a sensação de agradabilidade.

Parque Raquel de Queiroz em Fortaleza-CE – Destaque para os alagados construídos. Crédito: Prefeitura de Fortaleza-CE

Estes são apenas alguns dos exemplos de como aliar a sabedoria da natureza com um bom desenho urbano e ajustes institucionais pode ser uma chave valiosa para construirmos cidades mais resilientes, inteligentes e saudáveis.