Mobilidade urbana para mobilidade social: uma relação em movimento

28/11/2024 | por cidadeativa

Segundo o IBGE, aproximadamente 85% da população brasileira vive em cidades. O meio urbano é, portanto, o principal palco para acessos a moradia, serviços, trabalho – e outras oportunidades. A mobilidade urbana pode ser vista como o conjunto de espaços, infraestruturas e serviços que apoiam o deslocamento de pessoas e mercadorias – dando acesso a essas diversas oportunidades. Por isso, falar de mobilidade social no contexto da mobilidade urbana é falar sobre direitos, e é falar sobre a chance que cada e toda pessoa tem de ter uma vida digna, e prosperar. 

Pensando nisso, a Cidade Ativa e Fundação Grupo Volkswagen uniram forças para explorar como iniciativas de mobilidade podem impulsionar a equidade, fortalecer capacidades locais e tornar as cidades mais inclusivas, através de uma oficina online para participantes do Laboratório de Mobilidade (Lab) da Iniciativa Mobilidade em Transformação. 

“Mobilidade Social é o processo pelo qual indivíduos ou grupos sociais transitam de uma posição socioeconômica para outra, podendo ascender ou descender na escala social.” (Fundação Grupo Volkswagen)

Desde o início de 2024, a Fundação Grupo Volkswagen tem se debruçado no tema da mobilidade social como causa prioritária de suas ações, já que o Brasil enfrenta grandes desafios neste quesito. De acordo com a OCDE, a mobilidade social no nosso país é uma das mais restritas do mundo, já que são necessárias nove gerações para ascensão social dos mais pobres até a classe média. 

Ao apresentar o conceito aos participantes do Laboratório, a especialista Maria Ruanes Coelho, da Fundação Grupo Volkswagen, destacou que sua definição é pouco precisa na literatura, apesar de seu entendimento ser intuitivo. Entretanto, afirma que é certo que a melhoria da qualidade de vida está relacionada às oportunidades que as pessoas têm para exercer sua plena cidadania e garantir acesso a direitos básicos como educação, habitação, segurança, saúde, cultura, renda – e outros.

E se pela perspectiva sobre desigualdade, inserida pelo teórico Amartya Sen, entende-se ser necessário eliminar privações de liberdade que limitam as escolhas e oportunidades das pessoas, a mobilidade urbana revela-se como um meio fundamental para conectar indivíduos a todos os direitos básicos de forma irrestrita. 

Nesse sentido, a priorização da mobilidade ativa é chave para o planejamento urbano, pois incide diretamente na redistribuição do espaço das ruas tendo como premissa os usuários mais vulneráveis (pedestres e ciclistas), reiterando a visão de cidade de proximidade (encurtando distâncias entre destinos como moradia, emprego, e serviços), ao passo que melhora a conectividade entre modais e insere mais qualidade de infraestrutura para esses deslocamentos. Nessa busca por adequações, torna-se mais evidente a diversidade de indivíduos e suas distintas especificidades nos deslocamentos cotidianos. Por isso, incide também nas relações sociais, evidenciando que nosso contexto cultural e características individuais, ainda hoje, influenciaram em desiguais condições de acesso através da mobilidade urbana. 

Foi neste ponto que abrimos um debate junto aos participantes presentes do Lab, com a seguinte provocação: “como sua ação transforma a comunidade local?”. As atividades interativas começaram com uma rápida construção coletiva sobre outras correlações entre os temas a partir do ponto de vista de cada participante. Na sequência, participantes trouxeram reflexões sobre como acreditam que suas ações estão promovendo impacto na mobilidade social dentro dos territórios de atuação, através de uma rica construção com Maria Coelho. A oficina fez parte de uma agenda de atividades promovida no âmbito da iniciativa Mobilidade em Transformação e reforça o compromisso da Cidade Ativa com a promoção de cidades mais justas e inclusivas. 

“É impossível fomentar transformações sociais de longo prazo sem imaginar uma realidade urbana com deslocamentos mais equitativos e sustentáveis, capazes de transpor ou reduzir barreiras.”

(Cidade Ativa)